As alunas da primeira turma do Curso Dandaras apresentam seus trabalhos finais de conclusão de curso
Na semana de celebração do Dia Mundial da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha as alunas da primeira turma do Curso Dandaras apresentam seus trabalhos finais de conclusão de curso.

No Rio Grande do Sul as mulheres negras, além de enfrentar desafios impostos por uma sociedade racista e sexista são cotidianamente invisibilizadas. O estado é considerado , ainda hoje, como reduto europeu, porém a presença negra africana no estado foi significativa e sua contribuição cultural não foi inexpressiva como se costumava alegar.
Akanni – Instituto de Pesquisa e Assessoria em Direitos Humanos, Raça e Gênero e Etnias, organização de mulheres negras gaúchas, busca alterar esse quadro promovendo o Curso Dandaras – Construindo o Pensamento Crítico e Promovendo a Formação Política com Mulheres Negras do Rio Grande do Sul que busca por meio da formação e articulação de diversos segmentos de mulheres negras (principalmente quilombolas, jovens, trabalhadoras domésticas, moradoras de periferia, transessuxais, lésbicas e/ou bissexuais). Desta forma fortalecendo a autonomia das mulheres negras, suas organizações, comunidades frente aos poderes constituídos e, estimulando-as à participação política e a ocupação dos espaços de poder e decisão.
Durante as disciplinas as alunas, discutem e debatem acerca das questões que envolvem a conjuntura político, social, econômica e cultural, na realidade das mulheres negras. Na última sexta-feira (26/07), as alunas da primeira turma demonstraram a potência das reflexões geradas durante os encontros em sala de aula na apresentação dos trabalhos finais de conclusão de curso. Em seus trabalhos finais as Dandaras articularam trocas de saberes e conhecimentos com mulheres negras de suas comunidades, ou organizações nas quais estão inseridas.
O encontro iniciou com uma saudação aos Orixás, realizada pela aluna Mãe Nara Regina de Oxalá. “Ao saudar essas entidades, saudamos a nossa ancestralidade, pois nossos passos não vêm de hoje e a energia daqueles que vieram antes nos dá força para resistir e existir nessa sociedade racista e machista que tenta nos matar e calar cotidianamente. Estar com essas mulheres me fortaleceu, quanto ialorixá, enquanto mulher negra, mãe e avó. Perceber que a minha luta não é só minha, mas é nossa luta e juntas somos mais fortes”, afirma.
Em seguida, a aluna e slammer Thaís Sol, uma das fundadoras da organização Slam da Santa e do projeto Flores para Marielle, recitou uma poesia em forma de slam criada especialmente para as Dandaras. “A força de uma mulher e incompreensível quando eu digo ‘preta’. Somos a descendência de reis e rainhas. Somos a luz que eles tanto tentam ofuscar. Somos o som do tambor, a alegria do agogô. Somos melodia com sabor. O que fizeram e fazem com nosso povo não tem pudor, ainda pedem que vamos com calma, por favor. Temos pouco, não que os ancestrais não tenham tentado. Ainda que o muito seja só vazio disfarçado, nosso encontro traz poder. Que as nossas almas estejam sempre unidas, que os nossos olhares se cruzem, que a nossa força ancestral nos mantenha vivos. Olho corpos negros no trono, me sinto olhando o espelho. Olho corpos negros no chão, me sinto olhando no espelho. Que corpos negros nunca mais se manchem de vermelho”, recita Thaís.
“Ao longo destes dois meses de curso, aprendemos e trocamos conhecimentos umas com as outras. Uma vivência cheia de afeto, generosidade e solidariedade. O Curso Dandaras é uma construção coletiva, construída por essas mulheres negras guerreiras que aceitaram a tarefa de pensar juntas em um projeto político de enfrentamento ao racismo, machismo e sexismo presentes em nossa sociedade. Cada uma dessas mulheres foi desafiada a transmitir para outras mulheres negras os saberes adquiridos ao longo da sua formação política proporcionados pelas reflexões desenvolvidas durante as aulas. O reflexo disso se dá na construção dos seus trabalhos finais. Nós da Akanni agradecemos todas as Dandaras por acreditarem nesse projeto de formação política pioneiro no Rio Grande do Sul, desenvolvido por mulheres negras para mulheres negras”, emocionada Reginete Bispo, coordenadora da Akanni – Instituto de Pesquisa e Assessoria em Direitos Humanos, Raça e Gênero e Etnias, agradece as Dandaras.
Confira algumas das ações apresentadas:
“Mulher Negra, Identidade e Autocuidado” – produzido pelas Dandaras: Nara Regina Baptista, Lorena Vargas e Thais Silva.
“Sementes de Dandaras: Um convite a olhar para o passado, transformar o presente e Sonhar o futuro” – produzido pelas Dandaras: Janaina Rosa Pedroso e Daiana Santos. Uma roda de conversa com mulheres negras moradoras da Vila Cruzeiro, Cristal e Arredores. Um diálogo aberto e franco de pretas para pretas trazendo um pouco da conjuntura política atual e produzindo um debate sobre a importância do afeto em nossas vidas, geração de renda, saúde mental, fortalecimento das relações familiares e comunitárias e a importância do enfrentamento e resistências às formas de opressão, ao acesso à moradia.
“Racismo na Igreja” – produzido pela Dandara: Kátia Acosta. A produção de um encontro sobre o racismo presente nas igrejas evangélicas, o público alvo são as mulheres negras atendidas na Unidade Básica de Saúde São Pedro do bairro Lomba do Pinheiro.
“A vida da Mulher Negra importa” – produzido pelas Dandaras: Danielle Araújo e Joseane Azeredo. A ação foi uma vivência com 20 mulheres negras da periferia do município de Montenegro que participam do grupo Maria Maria da CUFA/RS. Durante, foi realizada uma roda de conversas na Associação de Moradores da Vila Esperança em Montenegro. O objetivo era que as mulheres negras convidadas fossem motivadas a ocupar o lugar de fala e empoderá-las na resistência para enfrentar as opressões sofridas cotidianamente.
“De nós para nós mulheres pretas” – produzido pelas Dandaras: Eva Vani Conceição e Vanderlene Aparecida Martins Miranda. Produção de um encontro de mulheres negras moradoras de vários bairros da cidade de Alvorada para debater como estas podem se organizar para enfrentar as questões das opressões vivenciadas na conjuntura política atual.
“Dandaras em movimento: formas de resistência através da dança música e autocuidado” – produzido pelas Dandaras: Maria Fernanda Formigoni, Raquel Santiago e Suelen Fagundes. Promoção de uma roda de conversa para debater o corpo como uma ferramenta de resistência, a partir de suas experiências e conhecimentos adquiridos ao longo da formação, buscando fortalecer o empoderamento de meninas entre 15 e 19 anos moradoras do bairro Restinga em Porto Alegre. Assim, apresentaram biografias de mulheres negras que contribuíram para o movimento de dança e música brasileiros. A Maria Fernanda trouxe o exemplo de Iara Deodoro para abordar a importância da dança afro-gaúcha no Rio Grande do Sul, já Raquel apresentou as matriarcas do samba, Clementina de Jesus Ivone Lara e Clara Nunes, e Suelem apresentou a biografia da primeira bailarina negra a integrar o corpo de balé do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, Mercedes Batista.
“Sankofa: regatar o passado para fortalecer o hoje e construir o futuro” – produzido pelas Dandaras: Ana Cristina Porto Alegre da Silva e Pámela Íris. A ação, voltada às mulheres negras residentes bairro Morada do Vale 2 na cidade de Gravataí, foi alicerçada nos princípios ancestrais das religiões afrobrasileira que ressaltavam a importância do autocuidado, do respeito aos mais velhos, escuta e solidariedade. Dentro desta perspectiva as Dandaras criaram um momento de acolhimento com a intenção de fomentar que as participantes busquem se agrupar para fortalecer os vínculos com as identidades que as constituem.
“Minha história refletida na história de cada uma” – produzido pela Dandara: Carolina Martins dos Santos. A construção de uma narrativa sobre a vivência de ser mulher negra, narrada para as mulheres negras participantes do Curso Dandaras.
“Encontro com meu interior, descobertas diárias que minha pele preta retinta me traz e a busca por sororidade” – produzido pela Dandara: Cibele Garcia da Rosa. A construção de um relato pessoal sobre suas experiências de vida, narrado para as mulheres negras participantes do Curso Dandaras.
“Algumas considerações em torno da questão de Gênero e Raça a partir das reflexões fomentadas durante o Curso Dandaras” – produzido pela Dandara: Tânia Maria Rodrigues Ferreira da Silveira. A criação de um ciclo de conversas sobre os impactos do racismo estrutural a partir da realidade vivenciada pelas Promotoras Legais de São Leopoldo.
“Mulheres Negras e o Racismo: que história é essa?” – produzido pelas Dandaras: Valéria da Silva do Amaral e Carmen Marilú Silva dos Santos. A formação de um grupo de estudos direcionado a ampliação do conhecimento e análise da historicidade e constituição do racismo na sociedade brasileira. O curso será direcionado para mulheres negras gaúchas e demais interessadas(os) nas problemáticas que envolvem o contexto do racismo.
“Aboyomi atravessa o Atlântico e ressignifica sonhos no Sarandi” – produzido pelas Dandaras: Vera Cintra, Cintia Nunes, Maria Conceição Vidal, Lucélia Gomes da Silva e Ana Pacheco. Oficina de confecção de bonecas abayomis ministrada pela psicóloga Marta Vidal e uma Roda de Conversa voltada para um grupo de mulheres negras que participam do projeto “Costurando sonhos para protagonizar o Amanhã” desenvolvido pelo Instituto Sempre Mulher no bairro Sarandi. Seu objetivo era oportunizar através da oficina o resgate da História Africana e Afrobrasileira, bem como da história de vida de cada uma das participantes.
“Racismo nosso de cada dia” – produzido pelas Dandaras: Eva Adriana Dias e Jéssica Souza. Uma roda de conversa abordando os malefícios causados pelo racismo no cotidiano e a diferença entre racismo e preconceito. O público alvo foram as adolescentes atendidas pelo Centro de Atendimento Socioeducativo Feminino (CASEF) da FASE/RS.
Confira abaixo as fotos do evento: