A primeira parte do quinto encontro do Curso Dandaras tem como foco central as lutas pelo resgate da humanidade dos corpos negros.
Na última sexta-feira (23/08), durante a primeira parte da disciplina “Gênero e Feminismo Negro”, do Curso Dandaras: Construindo o Pensamento Crítico e Promovendo Formação Política com mulheres negras no RS, ministrada por Winnie Bueno (Mestre em Direito), se discutiu o conceito de feminismo e as diferenças das reivindicações entre os movimentos de mulheres negras e os movimentos de mulheres não-negras. Pois ainda que ambos lutem por direitos emancipatórios diante do grupo dominante que são os homens, existe uma lógica de subordinação que tem na sua matriz o racismo como fator estruturante do sistema de dominação, o que diferencia os eixos de reivindicações destes movimentos.
Tendo em vista que a forma de organização política se dá em ciclos, durante a aula foram apresentadas as ondas feministas e qual a visão política das mulheres negras diante destes movimentos. Na perspectiva de incentivar as alunas uma continuidade da luta pela resistência ao processo de dominação e uma reflexão da racialização do gênero feminino. Assim, explicitando que nem todos os movimentos de mulheres negras são feministas, mas tem em comum a criação de estratégias de sobrevivência e a transcendência de um sistema de valor identitário em que desumaniza os corpos negros.
Uma das estratégias dos movimentos de mulheres negras é a construção de suas auto-definições identitárias que perpassa a estética negra e a sua representatividade política, assim desafiando as narrativas dos conceitos que envolvem o que é ser mulher negra construídos pelos intelectuais não-negros. Considerando aqui que um dos objetivos da disciplina é reivindicar o legado de uma história de intelectualidade negra que ressignifica conceitos e modifica paradigmas. Legado construído primeiramente nas narrativas literárias de escritoras negras e posteriormente nas narrativas construídas pelas pesquisadoras negras em espaços acadêmicos. Mulheres negras que buscaram organizar sua própria existência e a possibilidade de exercícios da própria autonomia, e que assim produziram benefícios coletivos e individuais.
Desta forma, essa primeira parte da disciplina sistematizou as possibilidades de emancipação das mulheres negras fora das institucionalizações para a compreensão do feminismo negro contemporâneo e quais são os temas que estão em disputa na atualidade. Perpassando as significações do conceito de interseccionalidade, realizadas por Kimberlé Williams Crenshaw e Patricia Hill Collins, assim como suas múltiplas dimensões e seu uso como ferramenta de análise social. Utilizado pelas alunas para compreenderem as reivindicações do Encontro Nacional de Mulheres Negras na cidade de Goiânia em dezembro de 2018, sendo eles: o enfrentamento das violências urbanas, a garantia de direitos sexuais e reprodutivos, o embate ao epistemicídio acadêmico e, principalmente a luta contra o genocídio da população negra.
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