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Mulheres Negras discutem a sua representatividade na política brasileira

Atualizado: 15 de jul. de 2019

No dia 28 de junho a Akanni – Instituto de Pesquisa e Assessoria em Direitos Humanos, Gênero, Raça e Etnias realizou aula pública do Curso Dandaras – Construindo o Pensamento Crítico de Mulheres Negras no Rio Grande do Sul. A aula teve como objetivo promover o debate sobre a representatividade das mulheres negras na política brasileira e a conferencista convidada foi Anielle Franco, bacharel em Letras e Jornalismo pela Universidade da Carolina do Norte e é mestra em Letras e Jornalismo pela Universidade da Flórida A&M.


O evento contou com a participação de 135 ouvintes, em sua maioria mulheres negras, atingindo a lotação máxima da sala João Neves da Fontoura no Plenarinho da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul.


A mesa de abertura foi composta Rosângela Santos Lopes (bacharel em Direito e Promotora Legal, representando a Themis), Maria de Fátima (assessora parlamentar da Deputada Federal Maria do Rosário – PT/RS), Fernanda Bairros (coordenadora do Grupo de Estudo e Pesquisa em Saúde da População Negra do Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio Grande do Sul), e Reginete Bispo Coordenadora da Akanni – Instituto de Pesquisa e Assessoria em Direitos Humanos, Gênero, Raça e Etnias).


Reginete Bispo (Akanni), Maria de Fátima (assessora parlamentar da deputada Maria do Rosário) e Rosângela Santos Lopes (Themis). / Foto: Cintia Belloc

“Quando a Akanni propôs a criação de um curso voltado para formação política para mulheres negras pensamos em atender 130 mulheres, mas devido à demanda de interessadas ampliamos o número de vagas. Hoje temos 216 alunas, que estão divididas nas turmas presenciais e no Ensino à Distância, mulheres negras quilombolas, moradoras de periferia, empregadas domésticas, graduandas e algumas com pós-graduação. Um grupo misto de mulheres negras que durante as aulas compartilham suas experiências relacionando-as com os conteúdos apresentados pelas professoras, mulheres negras debatendo e construindo o pensamento crítico de outras mulheres negras. Esse cenário demonstra o quanto nós mulheres negras temos a necessidade de espaços em que nos enxergamos enquanto protagonistas. O Curso Dandaras é isso uma construção coletiva que valoriza tanto os conhecimentos teóricos quanto aqueles aprendidos no cotidiano das vivências experimentadas por nós mulheres negras nessa sociedade estruturalmente racista e machista. Por isso, convidamos a Anielle Franco para essa aula pública, pois ela é irmã de Marielle Franco, assassinada por sua luta, sua representatividade, principalmente por ser uma mulher negra”, relata Reginete Bispo ao apresentar o curso durante a mesa de abertura.


Após esse momento, Nara Regina de Carvalho, ou a Mãe Nara de Oxalá como é conhecida a Cacique da Lomba do Pinheiro, bairro de Porto Alegre, exemplificou a fala de Reginete. “É devagar, é devagarinho, que nós vamos construindo os nossos espaços. Assim aconteceu com a Marielle, mulher negra que foi vitima de um crime brutal, silenciada. Mas, Marielle virou semente, cada uma de nós aqui carrega consigo um pouco de Marielle. Saúdo a Iansã que era mãe de Marielle, e digo a todas tudo tem a sua hora”, emocionada Mãe Nara termina sua intervenção cantando a música de Ivone Lara “Alguém me avisou”, acompanhada de todas as presentes.


Nara Regina de Carvalho, a Mãe Nara de Oxalá (à esquerda) e Reginete Bispo (à direita). / Foto: Cintia Belloc

Anielle Franco. / Foto: Cintia Belloc

Anielle Franco durante a aula relatou a trajetória política de sua irmã Marielle Franco, a vereadora mais votada no Rio de Janeiro, que foi brutalmente interrompida quando foi assassinada em uma emboscada no dia 14 de março de 2018, um crime sem solução. “É lindo estar com as Dandaras e ver o alcance que a vida da minha irmã teve e tem. Minha irmã quando iniciou a sua trajetória política após a morte de uma amiga, vítima de bala perdida, durante um tiroteio envolvendo traficantes de drogas na favela da Maré, jamais esperava esse alcance. A sua vida política foi dedicada à militância na defesa dos direitos humanos e contra as ações violentas nas favelas. Marielle foi morta porque seus assassinos tinham certeza que não existiria outra forma de parar suas ações, ledo engano. Pois a Mari permanece viva, em nós da sua família que criamos o Instituto Marielle Franco, que visa em suas ações o fortalecimento de outras mulheres moradoras de favelas”, ressaltou Anielle que também anunciou sua candidatura a vereadora em 2020 pelo PSOL.


Após a fala de Anielle, a poeta slammer Thaís Sol declamou uma poesia que resumiu a fala e o sentimento das mulheres negras que estavam ouvindo. “ Não é uma crítica apenas reflita, eu não entendia que não é em todo lugar que um preto pode ser representante, ainda mais se for mulher preta. E não sou eu uma mulher? É de Truth que me identifico, não desse teu feminismo branco que diz sobre você, não sobre mim. Quero ser bem tratada sim, não trago nas minhas poesias tanto amor. Dos quilombos para as favelas, das senzalas para os presídios, cadeias e celas, dos navios negreiros para as viaturas, dos antigos métodos foram para os novos métodos da escravatura. Demonizam a nossa cultura, querem que nossa pela seja a pele do crime mas quem roubou, matou, abusou teve privilégios não foram os pretos”, declamou Thais que realiza em sua escola o projeto Flores de Marielle. O projeto realiza rodas de conversas sobre feminismo negro, a solidão da mulher negra e estética afro, com meninas da Escola Estadual Santa Isabel no município de Viamão.


Thaís Sol, poeta slammer. / Foto Cintia Belloc

O evento teve com o apoio da Themis – Gênero, Justiça e Direitos Humanos e da Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul.


Confira mais fotos do evento na galeria abaixo.



Texto: Maria Helena dos Santos / ASCOM Akanni

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